'Fun Home' volta às livrarias brasileiras

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Quando Alison Bechdel lançou Fun Home, em 2006, ela já vinha construindo uma carreira nos quadrinhos com tiras e publicações alternativas - o "teste de Bechdel", experimento feminista sobre cinema, por exemplo, apareceu na célebre tira Dykes to Watch Out For. Mas foi com Fun Home que ela entrou no cânone das HQs e ajudou a consolidar o que hoje se conhece por graphic novel. A editora Todavia publica agora uma nova edição do livro, com tradução de André Conti.

Vencedor do Prêmio Eisner em 2007, o livro em quadrinhos trata das memórias de Bechdel concentradas no relacionamento oblíquo com seu pai. Professor de inglês, embalsamador nas horas vagas na funerária da família, decorador e restaurador compulsivo, bissexual nunca assumido, Bruce Bechdel foi um mistério que sua filha só conseguiu começar a desvendar 20 anos depois da morte dele, em circunstâncias misteriosas, aos 44 anos.

Com um elemento literário potente (Bechdel escreve uma porção de frases lapidares) e seu aspecto monocromático, o livro passeia pelo descobrimento (e encobrimento) da sexualidade e pela história da literatura num legítimo romance de formação. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, ela relembra o que a motivou a escrever, fala do papel da psicanálise no seu processo e do quê as graphic novels se tornaram nas últimas décadas.

Doze anos depois, o que esse livro significa para você?

São doze anos desde que Fun Home foi publicado, mas quase vinte desde que comecei a trabalhar nele. E, claro, quarenta ou mais anos que os eventos do livro aconteceram comigo. Estou muito feliz que o livro tenha sido tão duradouro - eu certamente não esperava. Mas sigo envelhecendo, e mudando, enquanto o livro permanece o mesmo. É uma história de uma pessoa jovem, a história de descobrir e entender sua família. Enquanto eu estava escrevendo, me vi firme na intenção de encontrar a verdade da minha família por trás das falsas aparências. Eu realmente achei que estava contando a verdade. O que posso ver agora é que era uma verdade. E não existe apenas uma história verdadeira em uma família.

A terapia ensina que não hierarquias para o sofrimento de alguém. Isso estava na sua cabeça na feitura do livro?

Sim, ranquear sofrimento não é muito útil. Eu estava muito consciente enquanto escrevia Fun Home de quão mais difícil era para o meu pai crescer sendo queer do que era para mim. Digo "queer" porque é um bom guarda-chuva, eu suspeito que ele era mais bissexual do que gay. Mas as coisas mudaram tanto entre a juventude dele e a minha. Pude me assumir como lésbica sem muito risco. Ele encontrou riscos enormes. Quanto mais isso ficou claro para mim, mais compaixão fui capaz de sentir por todo seu comportamento difícil.

É sabido que a terapia teve uma influência forte no seu trabalho. Como você vê que a análise se relaciona com a arte?

O que a psicanálise fez pela minha arte foi me ajudar a me tirar do meu próprio caminho para que eu pudesse fazê-la. Como filha de dois pais muito criativos, tenho um relacionamento bem carregado com minha própria criatividade. Tenho um crítico interno muito estridente que está constantemente apertando o delete no meu computador e tentando manter minha caneta longe do papel. É uma luta contínua, mas sem a terapia eu teria que ter procurado outra carreira há muito tempo.

Que lugar a literatura tem na sua vida hoje em dia?

Infelizmente, não sou uma leitora voraz como costumava ser. Eu era uma leitora inveterada quando adolescente, como uma fumante. Mas de algum jeito eu não encontro muito tempo para isso agora. Estou sempre lendo múltiplas coisas para o trabalho, pesquisando vários tópicos. Mas por prazer, na cama, tendo a ler velhos clássicos que já li muitas vezes. Acabei de ler Emma, de Jane Austen, talvez pela 15.ª vez, pelo amor de deus. É estranho porque estou constantemente comprando livros e minha casa está cheia deles até as vigas.

Quando você escreveu e publicou Fun Home, graphic novels era uma coisa diferente no geral. O que esses anos fizeram com o gênero?

Sim, graphic novels atingiram um ponto alto real na sua missão por legitimidade mais ou menos na época que Fun Home saiu. Essa tendência existia há algum tempo antes disso, certamente desde a metade dos anos 1980 quando Maus, de Art Spiegelman, mudou completamente o terreno. Nos últimos doze anos, quadrinistas continuaram a ser levados mais a sério como literatura até que esse ano uma graphic novel foi finalista do Booker Prize.

Porque lendo entrevistas suas daquela época, parece que as pessoas não sabiam o que fazer com Fun Home: era um livro tão bom, mas era ilustrado, e as pessoas não eram acostumadas a isso. Qual você acha que é o papel de Fun Home na aceitação das graphic Novels?

Acho que Fun Home pode ter tido um papel pequeno em ganhar alguns leitores de quadrinhos novos porque seu conteúdo é explicitamente literário. Minha história é sobre escrever e sobre livros, um tópico familiar para leitores e críticos literários, então havia uma predisposição para a simpatia.

Desde os anos 1980 quadrinhos em geral têm uma marca autobiográfica. Por quê?

Penso que tem a ver com o desenho. Quadrinhos têm a capacidade de serem uma forma muito íntima de contar histórias porque é algo que o autor de fato toca, as linhas são feitas com a mão do autor e frequentemente mesmo as palavras são desenhadas. Não é nem de perto tão íntimo quando uma pessoa escreve e outra desenha. Mas quando é o mesmo artista criando o livro todo, você está realmente está dentro de sua visão de mundo, e isso faz um meio muito potente para autobiografia.

FUN HOME - UMA TRAGICOMÉDIA EM FAMÍLIA
Autora: Alison Bechdel
Tradutor: André Conti
Edit: Todavia (240 págs., R$ 54,90, R$ 39,90 o digital)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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