Batalhador, vencedor e um grande campeão da vida, José Odair Costa podia ser apenas mais uma pessoa que desistiu de viver por conta de uma má formação congênita, mas ele fez toda a diferença em sua vida e na vida de pessoas que estavam a sua volta se superando a cada nova etapa. Neste caso, foi tendo a superação como seu lema de vida!
Como jornalista, ao conhecer Odair e toda sua história, tive a certeza que perseverança e força de vontade levam pessoas a realizar sonhos inimagináveis, independentemente de qualquer condição física. Como pessoa, a história desse homem guerreiro e sonhador, me emocionou, tanto por sua humildade estampada em sua fala calma e serena, e também, por todo esse orgulho espelhado em seu olhar ao me contar toda sua trajetória até o presente momento.
José Odair Costa, mais conhecido como Odair Bike Show, nasceu com uma má formação congênita, decorrendo a falta da perna direita e ainda uma má formação em suas mãos. Odair conta que toda sua trajetória foi bem difícil, os médicos, ao descobrirem essa má formação, não queriam deixar sua mãe levá-lo para casa, pois acreditavam que sua mãe não iria conseguir atender as necessidades do filho especial.
O caçula de 10 irmãos, Odair conta que seus pais nunca o trataram diferente dos seus outros irmãos, passou por todas as fases da infância, onde existiam broncas e advertência caso houvesse travessuras. “Meus pais nunca passaram a mão na minha cabeça por conta desse meu problema, sempre me trataram como todos os irmãos, se tivesse que apanhar, apanhava iguais aos outros”, conta Odair. Ainda ao falar sobre a gratidão pela família, ele completa, “ Meus pais foram fundamentais em toda minha vida, eles tentavam deixar tudo mais leve, me apoiaram em todos os meus sonhos e foram grandes instrumentos de sabedoria para mim”.
Foi somente aos dois anos de idade que Odair percebeu que havia algo diferente em seu corpo, ele conta que sentia muita vontade em andar e sair brincando com os seus irmãos, mas não conseguia por conta de sua má formação. Ao relembrar histórias de infância, Odair conta que seu desejo em conseguir andar era tão grande, que quando suas irmãs ganhavam bonecas, ele tirava a perna de todas elas, para colocar nele, imaginando que ao fazer isso ele sairia andando igual a seus irmãos, e ao ver que isso não seria possível com uma perna de brinquedo, o desespero tomava conta, pois não aceitava suas condições físicas.
Apenas com 2 anos de idade Odair conseguiu sua primeira prótese, através da AACD (Associação de Assistência à Criança com Deficiência). Ele relembra que ia com sua mãe para São Paulo, durante a madrugada para realizar procedimentos que fizessem ele ter uma melhor locomoção. Quando recebeu sua primeira prótese, foi como se não existisse nenhum obstáculo à sua frente, a vontade de andar era tamanha, que ao colocar, ele nem precisou segurar nas barras de apoio, já saiu andando extremamente feliz pelos corredores da AACD, instituição pela qual frequentou até seus 20 anos de idade, do qual tem um carinho e uma gratidão imensa.
Porém, ao ganhar sua primeira prótese, o caminho para conquistar a felicidade ainda seria longo! As próteses conquistadas eram enviadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e possuíam baixa qualidade, o que causava um certo desconforto na rotina de Odair, pois o machucava e não trazia a mobilidade adequada que ele necessitava. Após a primeira prótese, Odair teve que trocar várias vezes, conforme ia crescendo, o que também gerava um certo desconforto.
Ao se tornar adolescente, foram surgindo outras dificuldades, problemas que a inocência de uma criança não deixava transparecer, porém o início da vida adulta não deixou escapar, infelizmente! Bullying, preconceito e vergonha, são essas três palavras que fizeram a maior parte da adolescência de Odair. Ao recordar situações, milhares passam em sua cabeça, uma delas é durante o período escolar. Ele conta que tentava ter uma vida normal, porém a minoria de pessoas maldosas que faziam comentários ofensivos a sua condição física o magoavam. Odair conta que sentia muita vontade de usar bermuda, o que era estilo na época, um dia ele foi até a escola de bermuda, como qualquer outro aluno, e alguns colegas de classe zombaram dele, o chamando de “perna de pau” e rindo muito de sua situação, aquele momento para ele foi infeliz e triste, do qual ele se recorda até os dias de hoje.
Fora da escola o preconceito continuava, certa vez ele conta que estava em um comércio e a dona do estabelecimento viu a má formação em uma de suas mãos e perguntou se ele tinha vergonha em ser do jeito que era. Odair relembra essa situação indignado e triste ao recordar tamanho absurdo e discriminação.
Com todas essas situações, o preconceito das pessoas, a vergonha dele mesmo em se sentir “diferente”, a má aceitação com sua deficiência e a dor constante por conta da péssima qualidade da prótese, fizeram Odair pensar em suicídio. “Um dia voltando da escola, fui até a linha do trem e fiquei lá esperando o trem passar, pois ia tirar a minha própria vida, só desisti, porque um amigo me impediu, mas cheguei neste ponto, pois não me aceitava do jeito que eu sou”, cita Odair.
Quando completou 20 anos, Odair viu sua vida melhorar! Em um domingo qualquer, vendo televisão com a família, Odair assistia a uma reportagem sobre esporte falando da modalidade “Frestyle”, onde a atuação era em manobras radicais em cima de uma bicicleta. Naquele momento, Odair sentiu algo inexplicável, aquele encanto pela modalidade o despertou o conhecimento em aprender mais sobre a categoria. Como já era apaixonado por bicicleta desde os 5 anos, Odair juntou sua paixão com uma grande descoberta, mal sabia ele que essa atuação mudaria toda sua vida.
Odair se recorda que na época não tinha acesso à internet, por isso, passou a alugar filmes sobre a modalidade “Frestyle”, a comprar revistas, e a partir daí, deu início para as primeiras manobras radicais. Simplesmente sozinho, Odair assistia todos os vídeos durante o dia e à noite iria em uma quadra próximo a sua casa e treinava os movimentos vistos com atenção.
Com insegurança, ele pensou que não seria capaz, pois já achava difícil a atuação para pessoas com todos os membros do corpo, com sua deficiência achou que seria impossível realizar tais manobras, porém não foi isso que aconteceu. Acreditar e ser persistente são qualidades que movem a vida de Odair, por confiar que seria possível, ele conseguiu fazer inúmeras manobras, até que tomou confiança e montou despretensiosamente todo um repertório para realização de shows com acrobacias e manobras. Ao ver que ia ganhando público por onde se apresentava, Odair conquistou um reconhecimento significativo e saiu pelo Brasil a fora realizando vários shows de superação e boa desenvoltura.
Aliás, foi com o show que Odair foi revelado e ganhou a maior conquista para sua vida! Em uma de suas participações em uma emissora de televisão, ele recebeu a doação de duas próteses que possibilitaram uma ótima qualidade de vida para o seu dia a dia e também para realização de suas manobras. A partir daí, ele ganhou o país e com certeza a vontade de viver! Ao relembrar todos esses momentos Odair é categórico, “Foi o esporte que salvou a minha vida, não me imagino superando tudo que eu já passei e a resgatar todo o meu emocional sem a ajuda do esporte, talvez sem ele na minha vida eu ainda estaria sentindo vergonha de mim mesmo”.
Hoje em dia Odair se sente uma pessoa realizada e feliz, acredita que seus shows já ajudaram muitas pessoas que sofrem com problemas piores que o dele, “ A cada show que eu fazia, depois eu recebia vários e-mails me parabenizando e falando que eu havia dado motivos para a pessoa continuar sobrevivendo”.
Além de voltar a vida e recuperar sua autoestima, Odair ganhou fama por todo o Brasil, já participou de vários programas de televisão, mostrando sempre o seu show e contando toda sua bela história de superação. E foi assim que ele realizou o seu grande sonho, que era participar de um comercial de Tv, ele fez parte do vídeo de lançamento da logomarca dos Jogos Paraolímpicos do ano de 2016, com orgulho e emoção ele conta o quanto isso foi gratificante, pois por toda a vida ele quis ter esse reconhecimento e foi dessa forma que ele se sentiu como uma inspiração de vida e merecedor de tudo que havia conquistado.
Atualmente Odair vive uma vida normal, como qualquer pessoa, trabalha durante toda a semana e faz shows esporadicamente durante o ano. Sobre sonhos, ele ainda almeja alcançar vários, mas se sente um grande vitorioso por ver todos os obstáculos percorridos e tudo que conquistou até agora.
Hoje, Odair é uma pessoa de bem com a vida, sem preconceitos e com uma bela bagagem de superação em sua trajetória. Com sua humildade e dedicação, Odair pode ainda ganhar o mundo!
Vitorioso é a palavra que o define!
Texto publicado na Revista Fique em Evidência - Edição 83 - Agosto/Setembro 2018, escrito por Luana Andrade. Fotos: Edson Dias.
