Instinto para a escrita

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O nome de Pilar Quintana - escritora colombiana convidada da Flip Virtual - voltou a circular no cenário internacional quando apareceu na lista de finalistas do National Book Award, um dos prêmios literários mais importantes dos Estados Unidos, na categoria literatura traduzida. Antes disso, ela já havia sido selecionada pelo Hay Festival, no País de Gales, como um dos 39 escritores com até 39 anos de maior relevância da América Latina, em 2007.

Quintana participa de uma mesa virtual nesta sexta-feira, 4, às 20h30, com a escritora Ana Paula Maia - há diversos pontos de contato entre as obras das duas autoras, a começar pela reflexão profunda sobre o efeito da violência nos corpos e suas relações com a animalidade.

A Cachorra, o romance de Quintana deste ano que vai figurar na lista de melhores de 2020, conta a história de Damaris, uma mulher de vida sofrida, frustrada por não ter conseguido engravidar. Ela canaliza a vontade de ser mãe em direção a Chirli, uma cachorra adotada de uma ninhada que apareceu no vilarejo na selva do Pacífico colombiano onde vive com o marido. Esse encontro de certa forma inesperado vai catalisar sentimentos e atitudes dos quais ela própria vai duvidar.

A escritora - esse é seu quarto livro - conta que escreveu o romance enquanto amamentava seu primeiro filho, que nasceu quando ela tinha 40 anos. Os direitos do livro já foram vendidos para 10 países, e sobre o romance Quintana respondeu por e-mail a algumas questões do Estadão.

Qual é a relação entre a sua história pessoal e a história de Damaris, protagonista do livro?

Damaris sou eu quando, aos 40 anos, queria ter um filho e sentia que não o conseguiria porque estava velha e acabada, não ia encontrar um parceiro, ninguém ia se apaixonar por mim, eu não ia me apaixonar por ninguém, meus óvulos eram inúteis... Em geral, nos últimos anos essa percepção mudou um pouco. Vemos que as mulheres podem engravidar depois dos 40 e mais e mais mulheres o fazem. Porém, é algo que a gente tem muito fundo na cabeça, porque desde que viramos os 30 começam a nos dizer que o relógio biológico está correndo e que é melhor nos apressarmos, porque então nossos corpos não servirão mais para nos dar filhos. Ao contrário da Damaris, consegui engravidar muito rapidamente e ter o meu filho, por isso Damaris também são minhas amigas da escola que tinham problemas de fertilidade e não podiam ter filhos naturalmente, que sofreram muito durante o processo. E, ao mesmo tempo, Damaris são as mulheres do Pacífico colombiano que conheci durante os nove anos que lá morei e que tinham vidas muito duras, isoladas do resto do país, com muitas necessidades estruturais e violência.

Como a experiência pessoal da maternidade afetou a maneira como você escreveu o livro?

Um dos meus grandes temas tem sido a animalidade. Gosto de pensar que o ser humano é guiado por seus instintos da mesma forma que os outros animais e que a racionalidade, que é o nosso traço distintivo, não nos afasta de nossa animalidade, mas faz parte dela. O desejo sempre esteve no centro da minha escrita. Antes de ser mãe, escrevia muitas histórias sobre o desejo sexual, porque me parecia que no sexo as pessoas tiravam máscaras e roupas, nos despíamos, de todas as formas, e por isso estávamos no nosso estado mais animal. A maternidade, o desejo avassalador de ser mãe, o fato de ter um filho no ventre, o fato de amamentar, o amor irracional pelo filho, me faziam sentir que ali era onde eu tinha sido mais animal. Isso me mudou como escritora, ampliou meu espectro de visão, por assim dizer.

Apesar dos nove anos que viveu em Buenaventura, você é uma pessoa que nasceu e vive nas grandes cidades da Colômbia. Por que você escolheu o cenário de uma vila à beira-mar como cenário para este livro?

Sempre gostei de romances curtos. Um dos meus favoritos é O Velho e o Mar: um velho em um pequeno barco de frente para o mar. Eu queria fazer minha própria versão de O Velho e o Mar, mas com uma mulher que queria ser mãe e não podia engravidar. Se eu colocasse a história na cidade, teria sido uma história de clínicas de fertilidade, médicos, tratamentos, filas nas entidades horríveis do sistema de saúde colombiano, e eu não queria isso. Eu queria que meu personagem ficasse à mercê dos elementos: a selva e o mar.

A violência desempenha um papel central no livro. Como você compôs a relação entre literatura e violência em sua carreira? Quem foram suas referências a esse respeito?

Na Colômbia temos uma guerra muito antiga e sangrenta. Essa realidade é tão avassaladora que a violência menos sangrenta muitas vezes não tem lugar nas notícias ou em nossa imaginário. Há excelentes escritores colombianos que retratam essa violência da guerra: Juan Gabriel Vásquez, Ricardo Silva Romero e Laura Restrepo, por exemplo. Em meus romances essa grande violência está sempre em segundo plano porque, se você é colombiano, é impossível escapar dela. Mas, como escritor, me interessa nomear as outras violências, as sutis e estruturais, aquelas que ignoramos e que afligem crianças, animais, mulheres, negros... O meu negócio, literário, não são os grandes feitos. Estou mais interessada nas pequenas histórias íntimas que acontecem dentro das casas.

Você é uma convidada da Flip, que este ano será virtual. Você tem alguma experiência particular ou relacionamento com a literatura brasileira?

Amo Rubem Fonseca. Para mim, ele foi muito esclarecedor em seu tratamento da violência e do sexo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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