A escrita poética de Adriana Lisboa

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Adriana Lisboa está completando 20 anos de trabalhos na literatura brasileira - vivendo nos Estados Unidos, ela está agora no Brasil para uma série de eventos de lançamento de seus dois novos livros: a coletânea de poemas Deriva (Relicário) e o romance Todos os Santos (Alfaguara). Nesta terça-feira, 20, ela participa do projeto Sempre um Papo, com o escritor Luiz Ruffato, no Sesc 24 de Maio, às 19h30, com entrada gratuita. Sobre os livros, Adriana respondeu às seguintes perguntas.

A palavra 'deriva' sugere uma embarcação mais ou menos perdida, sem rumo. Mas os poemas aqui parecem não estar à deriva; ao contrário, no conjunto, formam uma espécie de comentário poético sobre o estado das coisas. Essa dicotomia foi algo pensado para esses poemas?

Tenho a impressão de que de um modo ou de outro estamos sempre à deriva. A vida não acata o controle que supomos ter sobre ela. Esse livro foi escrito num momento pessoal e coletivo de sensação de enorme falta de rumo, entre 2017 e 2019, e acho que os poemas buscam fugir à tentação de encontrar um rumo inexistente. Gosto da ideia de comentário, que você sugere na pergunta. Os comentários são às vezes (ou quase sempre), neste caso, construídos por interrogações, por um julgamento que não se define, por um movimento que para mim é como o do mar aberto, quando não se sabe muito bem para onde se vai. Mas, de todo modo, há ilhas no trajeto, e há também a liberdade que é uma espécie de trunfo diante da incerteza de da indefinição.

Como a sua estada fora do Brasil contribuiu para a elaboração do luto e da saudade presente nas páginas de Todos os Santos?

Todos os Santos foi um romance que levei seis anos para escrever - não trabalhei nele todo esse tempo, mas foi o que levou para vir à luz, depois de outros projetos descartados. Meu romance anterior, Hanói, saiu em 2013, e no início de 2014 vivi uma das experiências mais difíceis e marcantes da minha vida: a morte inesperada da minha mãe. Então, minha língua materna ganhou uma espécie de novo status, tornando-se de fato a minha "mátria", para usar a expressão de Caetano Veloso. A língua foi refúgio ao longo desses seis anos fundamentais à elaboração do luto, ao qual se somaram outras perdas em minha vida pessoal, mas também na esfera coletiva. Todos os Santos foi uma maneira de vencer a tristeza que às vezes parece que vai levar a melhor, de continuar inteira e com vontade de escrever.

Nas suas últimas ficções, esse senso de deslocamento está muito presente. Como você acredita que a última década aprofundou e ao mesmo tempo deturpou a discussão sobre deslocamentos, migrações e zonas fronteiriças (que você aborda nesses livros)?

Em Todos os Santos, o deslocamento que mais me interessa não é o dos personagens à Nova Zelândia - que no livro não é um cenário essencial, mas quase que um não-lugar, rarefeito e longínquo. Aqui, a migração das aves me interessa, e o que ela significa em termos de resiliência de uma espécie mas também da violência da presença humana no mundo. Tenho a impressão de que nesses romances o tema do deslocamento veio se ressemantizando e se ampliando, de modo que hoje já não me interessa tanto falar de choques culturais etc, mas sim (e aí faço uma ponte com o livro de poesia) esse estar à deriva que é uma marca dos nossos tempos mas também uma marca da nossa própria existência no mundo. Nesses últimos doze anos, as questões envolvendo deslocamentos, migrações e zonas fronteiriças se tornaram de uma urgência aterradora, e ao mesmo tempo observa-se um discurso cada vez mais encarniçado de exclusão do outro e de defesa violenta do "meu" que é a mais equivocada de todas as respostas. Nossas conquistas científico-tecnológicas precisam de uma evolução ética da mesma envergadura.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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